27 setembro 2010

fim-de-noite

em estado modificado, flutuando mentalmente e solitariamente pela av. piauí, no bairro dos estados, indo para a av. epitácio pessoa, cruzo com um bêbado-crackeiro, que me aborda. descontrolado e cambaleando no meio da rua, diz ter sido assaltado, e pede-me uma orientação para ir para casa, qual seja localizada no bairro de mangabeira. após o susto inicial, procurei transparecer tranqüilidade. avisei estar caminhando em direção à epitácio, e que poderia seguir-me até lá, já que o mesmo não sabia nem aonde estava. dizia estar numa festa no magnífico ponte preta de mandacaru e que lá colocaram uma arma na sua cabeça. prometera vingança, a qual reafirmara durante todo o percurso até a epitácio, e me alugou até lá. achou estranho tê-lo socorrido, e lançou questionamentos acerca de minha sexualidade, e logo tratei de despistá-lo. ter sido ajudado por uma pessoa de sua idade, segundo o indigitado, é incomum. pediu desculpas pela indagação reiteradas vezes. quando chegamos finalmente na epitácio, depois do bebum quase ter sido atropelado em diversas ocasiões, dei-lhe um troco para voltar para casa. me agradeceu e segui meu caminho até o extra, com o objetivo de comprar pão, e após dirigi-me para a desintegration, e quando chego nesse ambiente tão desagradável e insalubre, vejo de cara um mendigo vomitando no chão, em si próprio. chego em casa e escrevo esse texto.
26 set. 2010.

08 agosto 2010

está tudo cinza

nem está nublado
e faz calor
mas vejo tudo
cinza
cinza
as pessoas
coisas
gatos
estou vendo tudo
cinza cinza cinza

tudo parece
dis
tan
te
longe demais
o tempo flue lentamente
estou esperando uma ligação
que nunca vem
está tudo
cinza
cinza
cinza!

set.2009

26 julho 2010

os pássaros não têm medo da chuva

os pássaros não têm medo da chuva
por que a chuva
sempre aparece
e quando ela chega
é hora de repousar
o pensar
e qual é o nosso destino?
a chuva passa a vida segue
sem precisar de guarda-chuva
sem se molhar
o sol volta
a brilhar
e a guiar
o caminho
e um dia
é destino
o fim chega...

Diálogo

A: Você é meu companheiro.
B: Hein?
A: Você é meu companheiro, eu disse.
B: O quê?
A: Eu disse que você é meu companheiro.
B: O que é que você quer dizer com isso?
A: Eu quero dizer que você é meu companheiro, só isso.
B: Tem alguma coisa atrás, eu sinto.
A: Não. Não tem nada. Deixa de ser paranóico.
B: Não é disso que estou falando.
A: Você está falando do quê, então?
B: Estou falando disso que você falou agora.
A: Ah, sei. Que eu sou teu companheiro.
B: Não, não foi assim: que eu sou teu companheiro.
A: Você também sente?
B: O quê?
A: Que você é meu companheiro?
B: Não me confunda. Tem alguma coisa atrás, eu sei.
A: Atrás do companheiro?
B: É.
A: Não.
B: Você não sente?
A: Que você é meu companheiro? Sinto, sim. Claro que eu sinto. E você, não?
B: Não. Não é isso. Não é assim.
A: Você não quer que seja isso assim?
B: Não é que eu não queira: é que não é.
A: Não me confunda, por favor, não me confunda. No começo era claro.
B: Agora não?
A: Agora sim. Você quer?
B: O quê?
A: Ser meu companheiro.
B: Ser teu companheiro?
A: É.
B: Companheiro?
A: Sim.
B: Eu não sei. Por favor não me confunda. No começo era claro. Tem alguma coisa atrás, você não vê?
A: Eu vejo. Eu quero.
B: O quê?
A: Que você seja meu companheiro.
B: Hein?
A: Eu quero que você seja meu companheiro, eu disse.
B: O quê?
A: Eu disse que eu quero que você seja meu companheiro.
B: Você disse?
A: Eu disse?
B: Não, não foi assim: eu disse.
A: O quê?
B: Você é meu companheiro.
A: Hein?
(ad infinitum)


por Caio Fernando Abreu

10 maio 2010

Permissividade

"Desculpe a garotada, mas foi a nossa geração que abriu a permissividade. O que veio depois foi a promiscuidade, o ninguém é de ninguém, o não-privilegiamento de nenhuma pessoa (amor). Mas quando qualquer um vai pra cama com qualquer um, sem qualquer interesse anterior ou posterior (no sentido cronológico!) reconquistamos apenas a animalidade. Cachorro faz igualzinho."

— Millôr
"A Bíblia do Caos", p. 429.

09 maio 2010

iii encontro mko joão pessoa

calvin

Eu me sinto às vezes tão frágil,

Eu me sinto às vezes tão frágil, queria me debruçar em alguém, em alguma coisa. Alguma segurança. Invento estorinhas para mim mesmo, o tempo todo, me conformo, me dou força. Mas a sensação de estar sozinho não me larga. Algumas paranóias, mas nada de grave. O que incomoda é esta fragilidade, essa aceitação, esse contentar-se com quase nada. Estou todo sensível, as coisas me comovem.”

— Caio Fernando Abreu

05 maio 2010

eis que surge uma borboleta

eis que surge uma borboleta
em meio às plantas, voa e pousa
voa e pousa...
num ritmo frenético
faz que sua presença seja notada
nessa manhã de outono
o céu está branco
nem faz calor
deus salve as borboletas
tão lindas!
ela se foi...

21 abril 2010

fonte da foto

17 fevereiro 2010

vimos a tristeza

hoje sou uma pessoa diferente
deixo me levar pelos sentimentos
e sinto que estou completamente só.

tento parar de fumar e não consigo
não posso abandonar o único companheiro que restou
pois todos os outros se foram.

com meu lucky strike, vi a tristeza bater à porta
estou nessa solidão e nessa invontade de viver
esperando dias melhores.

05 fevereiro 2010

jesus and mary chain, "down on me"

sometimes i can fake a smile
but still the world looks down on me
twenty five years of growing old
it just hangs infront of me
i can't see or understand why
pushing up can drag me down
take my time in everything
it breaks me up if i cant sing
i cant see
i cant touch
sometimes in the summer sunshine
the sky falls down on me
always in the dead of darkdays
someone's after me
talking fast I'm walking backwards
and my head is in the trees
you can hang this heavy feeling
hanging down on me

cigarro, a única companhia na solidão

não há remédio no mundo
capaz de curar
capaz de diminuir
minha dor

quando mais penso
mais ela aumenta
pois o que eu fiz
não tem perdão

não sei mais o que fazer
na verdade, sei
mas não posso
seria pedir demais

totalmente fora de rumo
aqui estou
sozinho, enfim
apenas o cigarro me faz companhia

fumarei um carlton na janela
escutando as músicas
que só me fazem
chorar.

27 janeiro 2010

tu pode ver o numero do meu celular, por favor?

(11:23:53) Alguém: ei harrison tu pode ver o numero do meu celular, por favor? é prum papel aqui, vergonha da porra de dizer que nao sei
(11:24:21) Harrison: deixa eu pegar meu cel kk
(11:26:08) Harrison: la vai
(11:26:14) Harrison: o numero é:
(11:26:29) Harrison: ********
(11:26:47) Harrison: normal, eu tbm demorei um tempao para decorar o meu
(11:29:52) Alguém: valeu cara
(11:29:57) Alguém: vou desconectar, falouo
(11:30:08) Harrison: olha a memória kk
(11:30:11) Harrison: xau ;}

vida interrompida

sei que o melhor é esquecer
talvez eu tenha conseguido por um tempo
ainda não sei como...
consigo enxergar tudo, agora

a cada dia que passa sofro mais
é impossivel esquecer, pois tudo me faz lembrar o quanto fui
idiota...
mas não tem mais jeito

nem as bebidas
nem as drogas
nada me faz suportar isso...
estou descendo cada vez mais rápido

eu mereço tudo isso
chegou a fatura cobrando todos os erros
com atraso, enfim, ela chegou...
eu não consigo mais viver